sábado, 27 de agosto de 2011

Estudo do meio

A PROPÓSITO DE NOSSA ATIVIDADE DE ESTUDO DO ESPAÇO DA CIDADE REALIZADA EM 30/07/211

Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes do que nunca no fim do segundo milênio.
E. Hobsbawn, Era dos Extremos.


Andando pelo centro de Campinas, tomamos consciência da pressa com que os tempos são atropelados e literalmente submersos. Revitalizar é preciso. E assim, vamos enterrando os vestígios do passado, assim como, em nossa vida pessoal, jogamos nos porões de nosso inconsciente as lembranças de sensações e experiências que não constituem mais ferramentas de trabalho de nossa vida cotidiana.
Mas, volta e meia temos de retornar a elas para resgatarmos nossa identidade própria, dando um basta no arrastão que tenta impingir-nos uma identidade alheia, alienada a interesses dominantes.
E, então, o historiador é mais necessário que nunca. É ele que desenterra o que está escondido, para que nossa verdadeira identidade apareça. Que desvela os interesses que moveram as mudanças espaciais durante o tempo. Ou seja, que faz com a sociedade, de alguma forma, o que o analista faz com a pessoa: cria condições de reencontrarmos nossas raízes. O professor de História, na feliz expressão do Alberto Nassiasene, torna o aluno cumplice desse trabalho.
Durante o curto passeio pelo largo do Carmo, rua 14 de dezembro, Barão de Jaguara e Cesar Bierrembach, pudemos nos dar conta de quanta história escondida e, também, de quanta história sugerida, pois apesar da implacabilidade destruidora do tempo, quantos indícios ainda restam e que, no nosso andar apressado do dia a dia não nos damos conta. Por isso, é preciso estudar, mais do que ver, perquirir, perguntar, estar atento.
Em Souzas e Joaquim Egídio tomamos contato com um passado exuberante em termos econômicos e culturais. Um grande número de fazendas que ainda restam mas que nem de longe repercutem o que foram quando a distância do centro de Campinas levava os moradores a construírem uma vida social quase que autóctone.
Somente a Vila Antiga ficou um tanto dissonante nesse roteiro. Ou, dependendo da forma como a encaramos, podemos de alguma forma coloca-la no roteiro. A par da comida deliciosa, pudemos ver como o passado pode ser tratado: uma coleção de objetos antigos, descontextualizados e desterritorializados. Ironicamente, bem ao lado do Alphaville, reduto do que há de mais moderno e luxuoso como local de bem morar...
Temos agora que pensar essa experiência de estudo do meio, dentro do que pedem as Diretrizes de nossa rede, cujos objetivos já foram traçados.
Elas pedem o “resgate da história local e regional, da história da África e cultura africana, afro brasileira e indígena (lei nº 10639/03 e lei nº 11645/08), bem como a valorização da memória, que é o mote central da cultura popular, através da oralidade.” Não como um capítulo à parte em nosso currículo, mas de forma integrada. Isso significa que, em qualquer assunto abordado em História temos de estar atentos aos referenciais de nossa história local. Ou seja, temos de construir o ensino de uma história integrada entendida não só como “o Brasil integrado à história da humanidade”, com farto material já encontrado em nossos livros didáticos, mas como a nossa história local integrada à história do Brasil e mundo.
No trabalho que temos à frente nesse 2º semestre, temos de ter sempre em conta a necessidade da busca desses referenciais. Certamente assuntos como a agroindústria do açúcar, a mineração, a escravidão, a cafeicultura, a industrialização ganharão novos coloridos que possibilitarão uma melhor compreensão por parte de nossos alunos.
Campinas, 07 de agosto de 2011
Antonio Carlos Rodrigues de Moraes

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