domingo, 1 de maio de 2011

OS DESAFIOS DA ESCOLA NA SOCIEDADE MODERNA

Ref. Questões nºs 4, 5, 6, 7, 9

Observamos perspectivas políticas em conflito no que se refere à construção de uma escola pública de qualidade, uma vez que essa passará a cumprir um de seus principais objetivos, ou seja, formar sujeitos críticos, comprometidos e atuantes no meio em que vivem ou trabalhadores preparados para a produção. Nem todos estão interessados em ver essas duas perspectivas como complementares, pois não querem qualquer ameaça a seus interesses.

Face à afirmação bastante comum de que falta vontade aos professores para que uma escola pública de qualidade exista, afirmamos que as soluções ao nosso alcance, enquanto grupo docente é pressionar a SME para que ela implemente de fato uma política educacional de qualidade para nossa cidade. Não uma política no papel, mas na prática, a fim de que uma parte das unidades escolares da RMC possa abandonar o papel de meras cuidadoras de alunos (e com esse termo queremos dizer: espaço físico escolar inadequado, utilizado por indivíduos que o freqüentam para se encontrar e passar o tempo, supervisionados pelos professores e funcionários), em que pese a boa vontade de muitas famílias em procurar o melhor para seus filhos. Principalmente os alunos com necessidades especiais precisam de um trabalho nas escolas que realmente os inclua e procure promover o seu progresso educacional.

Em sala de aula, o professor precisa continuar a árdua tarefa de mostrar aos alunos a importância da escola no processo de formação de sua cidadania plena.
O professor de História, num determinado contexto escolar, com sua maneira própria de agir, ser, viver e ensinar, transforma um conjunto de conhecimentos históricos em saberes efetivamente ensináveis e faz com que os alunos não só compreendam, mas assimilem e incorporem esses ensinamentos...(Selma G. Fonseca. Didática e Prática de Ensino de História. Campinas, Papirus, 2003)

No próprio processo de exigência de políticas públicas adequadas, temos a oportunidade de ensinar História, procurando engajar todos os participantes da comunidade escolar na luta por uma escola pública de qualidade. Ensinar história fazendo história. No dia em que qualidade for uma necessidade realmente sentida por toda a população não haverá gestor que se omita de suas responsabilidades. O próprio professor tem de ter espaço e vontade para impor uma participação ativa na construção da escola, superando a condição de tutelado por gestões autocráticas que não condizem com os princípios da LDB e das Diretrizes.

Além disso, o que constatamos hoje, em muitas escolas, é o distanciamento da comunidade em relação à realidade escolar, contentando-se com informações individuais em relação aos filhos, sem querer saber como vai a escola como todo. E muitas escolas se acomodam a essa situação, pois é mais cômoda ao desenvolvimento dos trabalhos rotineiros. Há que se atentar à oportuna observação das Diretrizes (pg. 6) de que “a escola sozinha não é capaz de dar conta dessa formação; por isso, a família, outros espaços culturais nos bairros e a própria mídia são instâncias também formadoras que precisam ser chamadas a contribuir com aquilo que a Diretriz Curricular se propõe a realizar”.

Quanto ao papel da escola diante da determinação do modo de produção da vida material, particularmente em relação à ideologia capitalista que hegemoniza os valores de nossa sociedade nos dias de hoje (você é o que você tem!) pensamos que é desvelar essa ideologia, para que nossos alunos não caiam na cilada de pensar que cada um de nós tem um papel pré-determinado na sociedade onde estamos inseridos.

Muitos dos alunos nunca foram além dos entornos do bairro. Nunca foram ao centro da cidade. Por isso, são importantes as saídas dos alunos fora do espaço da escola. O espaço de aprendizagem não pode se restringir à escola, mas se estender, no mínimo, ao espaço da cidade.

Precisamos despertar nos alunos a curiosidade de aprender a ler o mundo em que vive e o desejo de um futuro melhor, o poder sonhar com algo mais. Nada está pré-estabelecido, ainda que pareça estar. Falta esperança e a desesperança gera passividade, frustração e violência!

Vivemos num mundo cada vez mais virtual, veloz, bombardeado de informações e individualista. Estar nesse mundo significa ser solitário, viver só. O individualismo é uma das grandes características do capitalismo.

Se o indivíduo não tem a noção de coletividade ou a despreza, como poderá se transformar num sujeito crítico e atuante em seu meio? Como poderá se interessar em estudar história quem não tem nenhum sentido de coletividade?

Percebemos isso na sala de aula: como é difícil formar grupos, como é difícil trabalhar em grupo. Geralmente os grupos só se formam quando há a satisfação dos interesses individuais de seus membros.

Por isso o desafio da escola é grande, ela “nada contra a correnteza”, pois é um espaço coletivo de formação da sociedade, mas seus integrantes atuais são altamente individualistas! Como trabalhar com esse antagonismo é mais um de nossos desafios!

Não acreditamos que dar aula na sala de informática ou com data-show irá por si só resolver nossos muitos problemas presentes no cotidiano escolar. Eles precisam começar a serem superados em sala de aula, com os instrumentos que temos à disposição. Todos devem ser aproveitados e não permaneçam trancados “para não se estragarem”.

Já com relação à militância da escola, acreditamos que ela não é neutra, pois a escola não existe. A escola somos nós professores, equipe gestora, pais, funcionários e alunos, cada qual com suas idéias, preconceitos, filosofias, teorias etc. Não estamos no espaço escolar com o objetivo de formar prosélitos, mas precisamos assumir a nossa responsabilidade como uma das esferas formadoras dos indivíduos!

Percebemos existir muita confusão entre nós sobre qual é o nosso papel na sociedade enquanto escola. Por causa dessa confusão, muitas vezes, assumimos qualquer papel ou todos (se é que isso é possível) para desempenharmos. É fato que essa postura está fadada ao fracasso.

Se o papel da escola segundo o nosso Documento é de estar “a serviço de uma sociedade que garanta uma vida plena de possibilidades de desenvolvimento...” ela deve construir o seu projeto político-pedagógico a partir dessa premissa e passar a desempenhar o seu papel e não o de outras esferas da sociedade! Ela não deve ser neutra, mas sim ter coragem de assumir a sua postura política e defendê-la para que ela possa ter crédito. Falta credibilidade à escola quando ela não acredita em si mesma, não defende seus ideais, pois muitas vezes, nem sabe o qual é o seu papel na comunidade em que está inserida.

A questão da contraposição entre conteudo e formação foi respondida no próprio Documento (p.15) quando ele cita Paulo Freire e o seu conceito de conteúdos significativos. Para nós, esses conteúdos representam os conceitos básicos que cada disciplina deve trabalhar visando à formação do indivíduo social.

Os conteúdos significativos precisam ser trabalhados. De acordo com o Documento (p.15): ...não se compreende o mundo, não se toma posições críticas sobre os problemas, não se imagina soluções para os mesmos sem o estudo dos conceitos e teorias mais avançadas de cada época.

Temos clareza de que promover o estudo dos conceitos e teorias mais avançadas de cada época... é papel que a escola deve desempenhar com maestria.


Um dos grandes problemas das escolas públicas atuais é tentar abraçar a formação total do indivíduo. Esse não é o seu papel. Existem outras esferas da sociedade que precisam se responsabilizar por seus respectivos papéis. O professor deve assumir o seu papel de professor e não de pai, psicólogo, padre, médico do postinho, babá de aluno, conselheiro etc. O desrespeito que muitas vezes nós enfrentamos passa por essa indefinição do nosso papel.

Um comentário:

  1. Toninho, estou retomando minha reflexão em meu blog específico sobre a docência de história e já interliguei aquele blog neste blog, como se pode ver no final do blog (lita de blogs amigos).

    No momento, prefiro fazer minha contribuição mais geral (isto é, não só refletindo especificamente questões propostas pelo currículo de história na rede municipal de Campinas, mas outras questões filosófico-existenciais, historiográficas e teóricas, com uma certa forma literária, afinal, sou poeta), no blog que já tenho, o Semeando História. Vou fazer também comentários específicos neste blog, quando achar necessário.

    Prefiro pensar por escrito, mas nos últimos meses, andei muito abatido por questões que são relatadas no outro blog, o Rota Mogiana. Felizmente, com as reuniões que já tivemos no grupo de formação, sinto que comecei a esquentar um diálogo interior com o grupo que já me permite começar a escrever alguma coisa.

    Minha militância é também uma militância digital intensa (afinal, passo horas e horas escrevendo minhas postagens nos blogs e mandando ou lendo e-mails). Coisas do século XXI. Mesmo que não estejamos na rua, em passeata, podemos sim estar militando na rede de computadores e isto é o que tento fazer também. Já não tenho mais o pique que tinha em minha juventude, é claro, afinal, já ultrapassei os 50 anos (mas meu espírito pode ser ágil, especialmente quando não estou em fretando nenhuma profunda crise pessoal).

    Obrigado por ter esta oportunidade aqui, no comentário.

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