sábado, 16 de abril de 2011

REFLEXÕES SOBRE AS "DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA..."

REFLEXÕES SOBRE AS “DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA...”

Questões discutidas:

1. Segundo o documento, a definição curricular é um processo contínuo, através da ação e reflexão (pg.2). Reflexão sobre o que? Que tipo de ação? Teorizar ou aplicar teorias?

2. Partindo da definição de currículo adotada no documento, como “um conjunto de práticas culturais que reúne saberes/conhecimentos e modo de se lidar com os mesmos, além das relações interpessoais vivenciadas no ambiente educativo” (pg. 3), como se entende o modo de se lidar com os saberes e conhecimentos? Como integrar aos saberes e conhecimentos as relações interpessoais? Que cultura a escola produz? Ou ela é simples correia de transmissão de saberes produzidos na academia?


3. Como fazer a ligação entre os aspectos da formação geral e os interesses da comunidade? (pg. 3) Que tipo de interesses?

Resumo da discussão

Nessas reflexões, não nos propomos simplesmente a estudar as “Diretrizes Curriculares da Educação Básica...” da Secretaria Municipal de Educação de Campinas em todas as suas dimensões com o fito de entende-lo para o aplicar à nossa prática, mas repensá-lo e ressignificá-lo a partir e em confronto com ela.
O processo de construção do currículo, entendido como ”processo contínuo de reflexão e ação”, requer de nossa parte uma atitude de problematização constante. Ou seja, a disposição de enfrentar qualquer tipo de fundamentalismo pedagógico. Quando nos propomos a pensar e repensar o que fazemos, o resultado é práxis e não consumo de teorias. Nossos registros não devem se fixar burocraticamente em mais textos fechados para simples consulta ou em teses a competir com outras tantas, constantemente produzidas para encher as estantes da academia, mas, devem instar-nos a um contínuo repensar do que estamos fazendo para ver para onde caminhamos.
Sabemos que, assim como nós, os alunos também são capazes de teorizar. Contudo, hoje o professor não é a sua única fonte de informação. Dentro do contexto das novas tecnologias, ele chega cheio de informações não digeridas e nem articuladas, compondo uma visão de mundo superficial e imediatista, aberta à contaminação ideológica acrítica. As informações mudam muito rapidamente sem penetrar, ou seja, sem se constituírem em objetos de reflexão crítica. Nosso currículo deve ser construído a partir de um pensar crítico sobre essa cultura trazida pelos alunos.
Infelizmente, o que ocorre hoje, quando ocorre, às mais das vezes é um consumo de teorias pedagógicas chanceladas pela academia, tratadas à margem de nossas práticas. Muitas vezes são aceitos conceitos prontos, numa visão elitista da “república dos bacharéis”, a autoridade do diploma. Esse elitismo se esboroa quando nos debruçamos sobre a nossa prática e percebemos que as teorias adquiridas em nossa vida acadêmica não dão conta de nossos problemas e, então, buscamos referenciais nas práticas de nossos antigos professores e na nossa experiência de vida.
Nosso currículo deve ser produto de uma constante discussão com nossos colegas, pois é ocasião de contínuo aprendizado. É nessas discussões que temos condições de construção de saberes significativos. Infelizmente, em nosso dia a dia na escola não temos espaços adequados para discussão. Seja pela insuficiência dos tempos seja pouca qualidade das discussões. Assim, pressionados pela avalanche de tarefas a cumprir, nossa produção em grande parte se consome na burocracia. Ao invés de avaliar o currículo em ação na nossa prática do dia a dia, somos levados a cumprir tarefas “como manda o figurino”.
Aqui entra uma outra dificuldade, representada pela ação política da administração da SME. As políticas públicas em educação na rede municipal de Campinas não estão sendo construídas com a participação da comunidade escolar. As determinações chegam prontas à escola, elaboradas, muitas vezes, sem nenhuma relação com as discussões nos poucos encontros cavados no nosso tempo absorvido pelas dificuldades do nosso dia a dia. Desmobilizados, os profissionais recebem essas resoluções prontas e tratam de cumpri-las da melhor forma que conseguem. Ou então as ignoram sempre que possível e as coisas “não andam”.
Integração dos saberes construídos na escola
Na realidade, a escola hoje não é produtora autônoma de cultura, como deveria ser. Parece que algo sempre nos empurra a reproduzir. Reproduzir o que interessa à formação, de pouca qualidade, de trabalhadores adequados ao mundo do trabalho já construído à parte de seus interesses. Ou seja, a uma formação de simples encaixe na vida profissional.
Quais são nossas deficiências? Antes de tudo, na relação professor aluno, o professor via de regra não é ouvido, vencido pela concorrência da deformação midiática. As relações na escola são complicadas pelo reflexo das relações familiares e sociais. Assim, muitas vezes o professor é requisitado a acumular a função de assistente social, quando não de simples “babá de aluno”.
Há que se perguntar que tipo de cultura estamos produzindo num ambiente em que as relações estão cada vez mais violentas e a indisciplina é a regra. Apesar disso, há muitos alunos que querem aprender e conseguem. Temos de dar tudo de nós para ajudar a humanizar as relações. A cultura da violência tem de ser superada pela construção de vínculos com as famílias, com a disposição de nos ajudarmos mutuamente a superar as indiferenças e os preconceitos.
Outra dificuldade vem de nossa própria prática na escola. Hoje, dadas nossas condições de trabalho, em salas superlotadas, indisciplina, jornada excessiva, carência de tempo fora da sala para preparo e reflexão das práticas, falta-nos energia, além da que gastamos para falar um mínimo com os alunos.
Nossa prática individualista se reflete na construção de um projeto político pedagógico centralizada no trabalho de poucas pessoas, num determinado momento do ano, e que não serve como diretriz de nossas ações no dia a dia. Para mudar essa realidade temos de ocupar os espaços de reflexão coletiva, ajudar a qualifica-los e lutar pela sua ampliação. A ação coletiva é o caminho obrigatório para resgatarmos a qualidade de nosso trabalho em sala de aula.

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